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Lubrificante em camisinha de vítimas de estupro ajuda a chegar ao agressor

Por Elsevier Brasil | 16 de maio de 2023

Vestígio de lubrificante de camisinha em vítimas de agressão sexual é ferramenta para chegar ao agressor

Marta da Pian, Elsevier

Estudo será apresentado pela primeira vez no Brasil no dia 31/05, durante a 46ª RASBQ, pela pesquisadora italiana Marta da Pian a convite da Elsevier Um grupo de pesquisadores da Universidade degli Studi di Padova descobriu uma  forma de ajudar a identificar suspeitos de estupros e de outras agressões sexuais a partir da análise de rastros biológicos do lubrificante dos preservativos usados nos crimes, revelados por exame de esfregaço vaginal e/ou anal. O estudo Combined statistical analyses of forensic evidence in sexual assault: A case report and brief review of the literature, publicado no Journal of Forensic Sciences, será apresentado no Brasil pela primeira vez no dia 31 de maio, pela pesquisadora italiana Marta da Pian, durante a 46ª RASBQ, Reunião da Sociedade Brasileira de Química, em Águas de Lindóia (SP) A partir de uma denúncia imediata, a indicação de um suspeito e a certeza de que foi usado preservativo na agressão, em até 72 horas pode ser possível chegar à pessoa que cometeu o crime. A identificação de certos compostos presentes nos preservativos pode ser útil para reconstruir o evento ocorrido, especialmente em casos de agressões sexuais onde a análise de DNA não mostrou a presença de um perfil masculino e onde a análise de RNA não mostrou a presença de marcadores de espermatozóides. “Estamos falando de uma janela de tempo muito curta, de um material que precisa ser coletado em até 48 horas na vagina e/ou no ânus depois do ocorrido. Depois, há a comparação do que foi encontrado na vítima com um possível preservativo localizado onde o crime foi cometido (sendo que podemos prescindir dele), ou mesmo sua embalagem descartada, para que haja uma prova. Ainda não há regulamentação sobre isso no mundo, mas, se o método for reconhecido como eficaz, é do que precisamos para fazer a engrenagem jurídica começar a se movimentar a esse favor”, destaca Marta da Pian. Doutora em química orgânica, coordenadora do grupo de Jovens Pesquisadores da Sociedade Italiana de Química (SCI, sigla em italiano), representante da Divisão de Química Orgânica da SCI e delegada Italiana para a Rede Internacional de Jovens Pesquisadores (IYCN, sigla em inglês), atualmente Marta também ocupa o cargo de gerente sênior das Soluções de Ciências da Vida da Elsevier para o sul da Europa. A apresentação da pesquisadora, intitulada Detecção de vestígios de polímeros após abusos sexuais, será no dia 31/05, às 11h10, em Águas de Lindóia (SP). Os participantes da 46a RASBQ terão a oportunidade de conhecer os mecanismos que Marta e seus colegas de equipe - das áreas química, legal e médica - desenvolveram para transformar os lubrificantes dos preservativos em aliados na investigação de agressões sexuais.

“É claro que não podemos comprar todas as camisinhas do mundo, mas, se fizermos uma caracterização geral de tipos de lubrificantes, teremos uma espécie de benchmark para comparar. O desenvolvimento desse banco de dados de lubrificantes de preservativos é a continuidade da nossa pesquisa e se faz cada vez mais importante, principalmente quando nenhum traço biológico que permita identificar o agressor é encontrado na vítima.” Agressões premeditadas, praticadas por pessoas “confiáveis”A falta de estudos sobre o assunto surpreendeu o grupo de pesquisadores e provocou a busca por estatísticas no seu país natal, onde a camisinha foi usada em 1/3 dos 22 millhões de casos estimados de agressão sexual, segundo dados de 2014 do Instituto Nacional de Estatística da Itália (Istat). O grupo também encontrou um levantamento nos Estados Unidos a partir de 841 relatos de agressões sexuais, com a prevalência do uso do preservativo em 11% a 15% das situações.

“São números coletados a partir de relatos de denúncias. Não imaginávamos que fosse tanto. Provavelmente, a conscientização da população sobre o valor do DNA em investigações policiais de crimes sexuais está provocando um aumento do uso de preservativos pelos agressores”, diz a pesquisadora.

Os estupros praticados com uso de camisinha remeteram a outro dado também considerado alarmante pela cientista: os agressores são membros da família ou amigos das vítimas em 40% dos casos (Istat/2014).

Para Marta, o estudo não tem tantos precedentes por vários motivos, entre eles este: o de que muitas agressões são praticadas por pessoas conhecidas, teoricamente confiáveis, e isso dificulta a denúncia. Também há a questão de um estupro ser reconhecido como tal, visto que uma relação sexual pode começar consensual e depois se tornar abusiva. “É um assunto bem difícil e isso é um estímulo para continuarmos a pesquisa. É gratificante saber que a ciência pode vir a contribuir para a redução de agressões sexuais e de suas muitas consequências físicas, emocionais, sociais, sexuais na vida das pessoas”, completa. No Brasil, um estupro a cada dois minutos Marta destaca a importância da divulgação da pesquisa especialmente no Brasil, país onde acontece um número estimado de 822 mil estupros por ano, o equivalente a dois por minuto (https://shre.ink/kWYG abre em uma nova guia/janela), segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que se baseou em dados da Pesquisa Nacional da Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNS/IBGE), e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, tendo 2019 como ano de referência. De acordo com o Sinan, as jovens são as maiores vítimas de estupro, que acontecem ainda mais nessa população por volta dos 13 anos de idade. De acordo com o Ipea, estima-se que dos 822 mil casos/ano, apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de saúde.